Planejamento e processos na Assistência Farmacêutica

Ao solicitar a identificação dos processos da assistência farmacêutica que integram a rotina de trabalho, é comum que médicos e enfermeiros associem diretamente às etapas de prescrição e administração de medicamentos. No entanto, essas etapas representam apenas uma pequena parte do ciclo da assistência farmacêutica, configurando-se como o desfecho final de todo o processo terapêutico do paciente.

assistência farmacêutica é um componente essencial do Sistema Único de Saúde (SUS), englobando um conjunto de ações interligadas que promovem o acesso a medicamentos seguros, eficazes e de qualidade, além de incentivar seu uso racional. Essas ações incluem etapas como seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação de medicamentos, todas integradas ao processo de cuidado em saúde (BRASIL, 2022; OPAS/OMS, 2005).

 

O Papel do Planejamento na Assistência Farmacêutica

O planejamento é uma etapa central no ciclo da assistência farmacêutica e refere-se ao gerenciamento adequado do abastecimento de medicamentos. Ele é fundamental para assegurar a oferta contínua e eficiente dos insumos necessários ao atendimento à saúde, evitando desabastecimentos ou desperdícios (MARIN et al., 2003; OPAS/OMS, 2005).

Essa etapa envolve atividades como:

  • Identificação das necessidades locais: Conhecer o perfil epidemiológico da população atendida é essencial para selecionar os medicamentos mais adequados e garantir que os recursos disponíveis sejam utilizados de forma eficiente (PEREIRA, 2016).
  • Programação: Conjunto de atividades destinadas a garantir a disponibilidade de medicamentos previamente selecionados em qualidade e quantidade adequadas, considerando os recursos financeiros disponíveis. A programação precisa ser descentralizada e ascendente para refletir as reais demandas locais (OPAS/OMS, 2005; COSTA et al., 2021).

 

Ferramentas Auxiliares no Planejamento

Para auxiliar no planejamento e na organização da assistência farmacêutica, algumas ferramentas são indispensáveis:

  • RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais): Lista oficial que orienta a seleção e programação dos medicamentos essenciais no SUS. Ela garante que os medicamentos mais eficazes e seguros estejam disponíveis para atender às necessidades da população (MARIN et al., 2003).
  • Comissões de Farmácia e Terapêutica (CFT): Responsáveis por padronizar os medicamentos utilizados nos serviços de saúde, promovendo maior controle sobre o consumo e a aquisição (OPAS/OMS, 2005).
  • Gestão logística: Sistemas informatizados para controle de estoques que monitoram entradas e saídas de medicamentos, permitindo decisões mais precisas sobre compras e reposições (DANTAS, 2011).

 

A Importância da Integração dos Processos

A organização integrada das etapas do ciclo da assistência farmacêutica é fundamental para garantir a eficiência das ações. Cada etapa do ciclo – seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação – está interligada e depende do planejamento adequado para funcionar corretamente. A ausência dessa integração pode levar a problemas como:

  1. Desabastecimento: Falta de medicamentos essenciais nos serviços de saúde.
  2. Desperdício: Perda de insumos devido ao vencimento do prazo de validade ou à má gestão dos estoques (DANTAS, 2011; COSTA et al., 2021).

Por outro lado, um planejamento bem estruturado assegura:

  • Disponibilidade contínua: Medicamentos sempre acessíveis aos pacientes.
  • Uso racional: Redução dos riscos associados ao uso inadequado dos medicamentos.
  • Otimização dos recursos públicos: Minimização de desperdícios financeiros e materiais (PEREIRA, 2016; COSTA et al., 2021).

 O planejamento na assistência farmacêutica é fundamental para assegurar o uso eficiente e sustentável dos recursos, garantindo o acesso contínuo aos medicamentos essenciais e promovendo seu uso racional. A integração de ferramentas como a RENAME e as CFTs aos processos logísticos e administrativos permite que gestores antecipem problemas e implementem soluções que otimizem o funcionamento do sistema. Além disso, uma gestão bem estruturada na seleção e programação de medicamentos contribui para a saúde da população, evitando desperdícios financeiros e impactos ambientais decorrentes do descarte inadequado (COSTA et al., 2021).

 

REFERÊNCIAS

MARIN, N.; LUIZA, V. L.; OSORIO-DE-CASTRO, C. G. S.; MACHADO-DOS-SANTOS, S. (Org.). Assistência Farmacêutica para gerentes municipais. Rio de Janeiro: OPAS/OMS, 2003. 334p.

PEREIRA, S. R. F. Gestão da Assistência Farmacêutica. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2016. Disponível em: https://www.rets.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/biblioteca/fasciculo_10.pdf.

OPAS/OMS. Avaliação da Assistência Farmacêutica no Brasil. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde; Ministério da Saúde, 2005. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/colec_progestores_livro7.pdf.

COSTA, B. P.; TAVARES, D. C. S.; MENEZES, Í. S.; ALMEIDA, A. C. G.. Prática farmacêutica na seleção e programação de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS): Revisão da literatura. Research Society and Development, v.10 n14 p.e547101422522; DOI: 10.33448/rsd-v10i14.22522.

DANTAS, S.C.C.. Farmácia e Controle das Infecções Hospitalares. Pharmacia Brasileira; Brasília: CFF; 2011.


DCB - Denominação Comum Brasileira - Atualizada 2020

A Denominação comum brasileira (DCB) é a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovada pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária, (Lei n.° 9.787/1999; Decreto n.° 3.961/2001; Resolução – RDC n.° 84/2002). 
"São nomenclaturas oficiais, em língua portuguesa, de fármacos ou princípios ativos utilizados no Brasil, que foram aprovadas pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária" (Anvisa).
Atualmente, com o advento do registro eletrônico, adquiriu uma concepção mais ampla e inclui também a denominação de insumos inativos, soros hiperimunes e vacinas, radiofármacos, plantas medicinais, substâncias homeopáticas e biológicas. 
Essa denominação é utilizada nos processos de registro, rotulagens, bulas, licitação, importação, exportação, comercialização, propaganda, publicidade, informação, prescrição, dispensação e em materiais de divulgação didáticos, técnicos e científicos em todo o país.

Existe também a Denominação comum internacional (DCI) ou International Nonproprietary Names (INN), que é a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS (Lei 9787/1999; Decreto n.° 3.961/2001; Resolução – RDC n.° 84/2002)), que identifica a substância por um nome genérico, de uso público e reconhecimento global. Cada denominação apresenta-se em diversos idiomas, como o latim, espanhol, francês, inglês e russo. 

A finalidade da Denominação Comum Internacional é conseguir uma boa identificação de cada fármaco no âmbito mundial. A DCI não tem caráter oficial, a menos que a autoridade sanitária de um determinado país a aceite assim. O país pode acatá-la em sua totalidade ou com certas variações. As denominações genéricas oficiais nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Japão e nos outros países que reconhecem a Farmacopeia Europeia recebem o nome de USAN, BAN, JAN e Farmacopeia Europeia, respectivamente.


Referências:

Anvisa atualiza lista de Denominações Comuns Brasileiras. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/anvisa-atualiza-lista-de-denominacoes-comuns-brasileiras>. 

LAURO, O.; MORETTO, D.; MASTELARO, R. Volume 2013 16 MDCB Manual das Denominações Comuns Brasileiras. [s.l.] , [s.d.]. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/dcb/arquivos/8140json-file-1>.

25 de Setembro - Dia internacional do Farmacêutico

No dia 25 de setembro comemora-se o Dia Internacional do Farmacêutico, a data foi instituída pelo Conselho da Federação Internacional Farmacêutica (FIP) em Istambul, Turquia, em 25 de setembro de 2009. O objetivo da data é:

  • Promover e valorizar a profissão farmacêutica no mundo;
  • Dar visibilidade aos serviços prestados pelos profissionais à comunidade, onde todos se beneficiam do acesso a medicamentos e tecnologias de saúde seguros, eficazes, de qualidade e acessíveis, bem como de serviços de assistência farmacêutica.
  • Integrar a categoria em todo o mundo.
“Transformando a saúde global” é o tema do Dia Mundial dos Farmacêuticos deste ano: 25 de setembro de 2020. A FIP convida você a usar o aplicativo WPD2020, que pode usar para gravar sua própria mensagem especial e divulgar como nossa profissão está transformando a saúde por meio de suas redes. 
A FIP almeja que, a população, em todos os países, se lembre do farmacêutico como o profissional que, ano após ano, supera inúmeros desafios, mas que não perde, nunca, a sua capacidade de cuidar do próximo e de servir à comunidade, sempre em busca do bem-estar coletivo. É assim no mundo inteiro. É assim no Brasil. Parabéns a todos que se reconhecem nessa descrição. 

Logo do CFF em comemoração ao dia mundial do farmacêutico em 2018: https://www.cff.org.br/noticia.php?id=5029&titulo=Dia+internacional+do+Farmac%C3%AAutico+-+CFF+adere+%C3%A0+campanha+da+FIP


REFERÊNCIAS

  1. https://www.cff.org.br/noticia.php?id=5029&titulo=Dia+internacional+do+Farmac%C3%AAutico+-+CFF+adere+%C3%A0+campanha+da+FIP
  2. https://www.fip.org/world-pharmacists-day

Categoria farmacológica de risco na gravidez

É uma categoria farmacológica baseada no risco potencial ao feto durante o uso de medicamentos gravidez. O enquadramento foi desenvolvido pela Food and Drug Administration (FDA) em que os fármacos são categorizados de acordo com o risco de causar dano ao feto durante a gravidez, baseando-se em estudos em animais ou humanos. 

Os fármacos são categorizados em 5 (cinco) categorias: A, B, C, D e X; 
  • Categoria A: em estudos controlados em mulheres grávidas, o fármaco não demonstrou risco para o feto no primeiro trimestre de gravidez. Não há evidências de risco nos trimestres posteriores, sendo remota a possibilidade de dano fetal;
  • Categoria B: os estudos em animais não demonstraram risco fetal, mas também não há estudos controlados em mulheres grávidas; ou então, os estudos em animais revelaram riscos, mas que não foram confirmados em estudos controlados em mulheres grávidas;
  • Categoria C: não foram realizados estudos em animais e nem em mulheres grávidas; ou então, os estudos em animais revelaram risco, mas não existem estudos disponíveis realizados em mulheres grávidas;
  • Categoria D: o fármaco demonstrou evidências positivas de risco fetal humano, no entanto, os benefícios potenciais para a mulher podem, eventualmente, justificar o risco, como, por exemplo, em casos de doenças graves ou que ameaçam a vida, e para as quais não existam outras drogas mais seguras;
  • Categoria X: em estudos em animais e mulheres grávidas, o fármaco provocou anomalias fetais, havendo clara evidência de risco para o feto que é maior do que qualquer benefício possível para a paciente;
Verifique na bula a categoria e busque informações com o farmacêutico e o médico prescritor com relação aos riscos e benefícios do uso do medicamento prescrito.

Fonte:

Modelo Queijo Suíço no processo de medicação

A segurança do paciente assume notável relevância na assistência à saúde e, nesse sentido, a cultura de segurança em uma instituição exerce grande impacto sobre a qualidade do cuidado.
James Reason, psicólogo britânico, especialista em comportamentos humanos, ilustrou a ocorrência do incidente nas instituições de saúde por meio do modelo do queijo suíço (Figura 1). Neste modelo, as lâminas do queijo com seus orifícios são comparados aos processos de trabalho e suas falhas. Quando as lâminas são sobrepostas, os orifícios também podem se sobrepor, permitindo a formação de um longo trajeto que atravessa todo o queijo.


Figura 1 - Modelo Queijo Suíço (Reason, 1997).


Pela teoria, as falhas podem ser ativas ou latentes:

  • Falhas Ativas – atos inseguros cometidos pelas pessoas que estão em contato direto com os processos. Elas podem assumir diferentes formas, como: deslizes; lapsos; perdas; erros; violações de procedimentos. As falhas ativas geralmente têm um impacto de curta duração sobre as barreiras.
  • Condições Latentes – são representadas pelas patologias intrínsecas dos processos. Aparecem através das decisões dos engenheiros, construtores, elaboradores de procedimentos e do nível gerencial mais alto. Toda decisão estratégica pode potencialmente introduzir um patógeno no sistema. As condições latentes têm dois tipos de efeitos adversos: podem contribuir para o erro no local de trabalho (como, por exemplo, pressão de tempo, sobrecarga de trabalho, equipamentos inadequados, fadiga e inexperiência) e/ou podem criar buracos ou fraquezas duradouras nas barreiras (alarmes e indicadores não confiáveis, procedimentos não cumpridos, projetos mal elaborados, etc). As condições latentes podem ficar adormecidas nos processos por décadas.

Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) 

O PNSP foi criado para contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional. A Segurança do Paciente é um dos seis atributos da qualidade do cuidado e tem adquirido, em todo o mundo, grande importância para os pacientes, famílias, gestores e profissionais de saúde com a finalidade de oferecer uma assistência segura. 

A meta 3 (figura 2) do programa visa na segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos.

Figura 2 - Segurança do paciente

O processo de medicação em hospitais inclui várias etapas, desde a prescrição médica, transcrição ou verificação da prescrição, dispensação e administração de medicamentos.

Em analogia ao processo de medicação, a sobreposição de processos de trabalho e suas falhas pode culminar na ocorrência de um incidente ao paciente. Portanto, as medidas de barreiras devem ser instauradas em todos esses processos pois, em caso de falha de alguma barreira, o próximo processo deverá impedir o seguimento do incidente.

Segundo a ANVISA, há várias ocorrências relacionadas ao uso de medicamentos que são objetos da farmacovigilância, dentre elas:
  • Reações adversas a medicamentos (RAM): qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional que ocorre com medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação de funções fisiológicas;
  • Eventos adversos: causados por desvio da qualidade ou decorrentes do uso não aprovado;
  • Interações medicamentosas: respostas especiais de um fármaco, que teve seu efeito alterado pela presença de outro fármaco, alimentos, bebida ou agentes químicos ambientais;
  • Inefetividade terapêutica: Ausência ou a redução da resposta terapêutica esperada de um medicamento, sob as condições de uso prescritas ou indicadas em bula;
  • Uso abusivo: uso irracional;
  • Queixa Técnica em Medicamentos: Alterações físico-químicas e organolépticas, adulterações, falsificações, problemas de rotulagem e de embalagem, entre outras;
  • Erros de medicação: Os erros de medicação são uma realidade nos ambientes hospitalares e o levantamento das principais ocorrências destes é de fundamental importância, bem como a determinação das causas, de forma que se possa assim implantar protocolos de segurança do paciente objetivando a prevenção e diminuição destes erros. Os erros de medicação, conforme figura 3, podem ser classificados em erros de prescrição, de dispensação, de armazenamento e de administração.
Figura 3 - Modelo Queijo Suíço no processo de medicação (desconhecido)


Todos os profissionais de saúde precisam compreender a importância de se praticar barreiras efetivas nos processos para evitar os erros de medicação, devendo:

  • Implantar POPs (procedimentos operacionais padrão);
  • Dupla checagem
  • Realizar treinamentos;
  • Avaliar indicadores, dentre outros.


FONTE:

  • https://certificacaoiso.com.br/iso-45001-prevencao-de-acidentes-e-o-modelo-do-queijo-suico/
  • http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/124/encarte_farmaciahospitalar.pdf
  • http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/index.php/download/category/280-artigos-sobre-seguranca-do-paciente?download=1390:erros-de-medicacao-em-hospitais-e-a-farmacovigilancia-na-seguranca-do-paciente-2002-2015
  • https://www.ismp-brasil.org/site/
  • https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/seguranca-do-paciente
  • https://www.who.int/patientsafety/es/

Cálculo de DDD

               De acordo com a Organização Mundial de Saúde, assume-se que DDD, ou Dose Diária Definida, é a dose média de manutenção diária para determinado fármaco na sua principal indicação terapêutica em adultos de 70Kg (WHO, 2003). O DDD é uma unidade de medida e não reflete necessariamente a dose diária recomendada ou prescrita. As doses terapêuticas para pacientes individuais e grupos de pacientes geralmente diferem do DDD, pois serão baseadas em características individuais (como idade, peso, diferenças étnicas, tipo e gravidade da doença) e considerações farmacocinéticas.

A DDD é a unidade utilizada pelo Conselho Nórdico sobre Medicamentos, pioneiro nos estudos de utilização de medicamentos e desde 1996, esta classificação passou a ser reconhecida pela OMS como padrão internacional (WHO, 2003; Castro, 2000)
A ANVISA elaborou uma nota técnica (GVIMS/GGTES nº 05/2017) para monitorar e notificar os antimicrobianos nos hospitais com leitos de UTI, gerando um indicador, o DDD por 1000 pacientes-dia para cada antimicrobiano consumido:

                DDD/ 1000 pacientes-dia = (A/B)/P*1000
        A= Quantidade total do antimicrobiano consumido (expresso em gramas);
        B= Dose diária padrão estabelecida para o antimicrobiano (em gramas);
        P= Pacientes-dia (no período observados);
        X 1000 pacientes/dia.
               Para a realização de estudos dentro de unidades hospitalares, a OMS recomenda o uso da expressão dos resultados em DDD/100 leitos/dia (lê-se número de DDD por cem leitos-dia), o qual é determinado a partir da seguinte fórmula: (RODRIGUES, FA; BERTOLDI, AD 2010)

DDD / 100 leitos / dia=
A   x 100
B  x  P
Figura 1 - Cálculo de DDD
       A = Quantidade total do medicamento consumido no período de tempo considerado (UI / g)
       B = DDD estabelecida para o medicamento
       P = Pacientes /dia no mesmo período de tempo considerado
      100 = 100 leitos/dia
              Os resultados expressos dessa maneira fornecem uma estimativa do consumo percentual de determinado medicamento em um dado período. Nesse caso, os valores correspondentes ao número de unidades dispensadas, número de leitos e taxa de ocupação de leitos, devem corresponder ao período de um ano. 

              A DDD estabelecida pode ser encontrada no site da WHO pesquisando cada antimicrobiano por via de administração:
 https://www.whocc.no/atc_ddd_index/ 


REFERÊNCIAS
  • Castro, Claudia Garcia Serpa Osório de. 2000. Estudos de Utilização de Medicamentos: noções básicas. s.l.: FIOCRUZ, 2000. 94p. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/zq6vb/pdf/castro-9788575412657.pdf
  • Anvisa. Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde. Brasília, 2017. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/Diretriz+Nacional+para+Elabora%C3%A7%C3%A3o+de+Programa+de+Gerenciamento+do+Uso+de+Antimicrobianos+em+Servi%C3%A7os+de+Sa%C3%BAde/667979c2-7edc-411b-a7e0-49a6448880d4
  • ATC/DDD Index 2019. https://www.whocc.no/ddd/definition_and_general_considera/

Classificação e Características dos Diferentes Tipos de Diabetes Mellitus

O Diabetes Mellitus (DM) constitui um importante desafio para a saúde pública mundial e para nós, profissionais de saúde. Compreender os diferentes tipos dessa síndrome metabólica é fundamental para o diagnóstico correto e a abordagem terapêutica individualizada.

 

O que é Diabetes Mellitus?

O DM é uma síndrome de etiologia múltipla caracterizada por hiperglicemia crônica resultante de defeitos na secreção de insulina, na ação desse hormônio, ou em ambos os mecanismos. A hiperglicemia persistente causa distúrbios no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas, podendo levar a complicações micro e macrovasculares ao longo do tempo.

Para contextualizar, é importante entender dois conceitos fundamentais:

  • Hiperglicemia: Elevação da glicose no sangue, que frequentemente resulta em sintomas como poliúria (aumento da frequência urinária), polidipsia (sede excessiva), polifagia (fome excessiva), perda de peso inexplicada e, em casos graves, cetoacidose diabética.
  • Hipoglicemia: Nível anormalmente baixo de glicose no sangue, geralmente abaixo de 70 mg/dL, que pode ocorrer como complicação do tratamento do diabetes e manifesta-se com sintomas como tremores, sudorese, taquicardia, confusão mental e, em casos graves, convulsões e coma.

 

Classificação Atual dos Tipos de Diabetes

A Classificação Atual dos Tipos de Diabetes Mellitus, em conformidade com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), inclui: DM Tipo 1, DM Tipo 2, DM Gestacional, e Outros Tipos:

 

1. Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1)

1.1 DM1A (autoimune)

  • Resulta da destruição autoimune das células beta pancreáticas
  • Geralmente diagnosticado na infância ou adolescência, mas pode ocorrer em qualquer idade
  • Presença de autoanticorpos (anti-GAD, anti-IA2, anti-insulina e anti-ZnT8)
  • Dependência absoluta de insulina para sobrevivência
  • Tendência à cetoacidose na ausência de tratamento adequado

1.2 DM1B (idiopático)

  • Deficiência de insulina sem evidência de processo autoimune
  • Etiologia desconhecida
  • Mais comum em indivíduos de origem africana ou asiática
  • Caráter fortemente hereditário em algumas famílias
  • Apresentação clínica semelhante ao DM1A

1.3 Diabetes Autoimune Latente do Adulto (LADA)

  • Considerado uma forma de DM1 que se desenvolve mais lentamente
  • Diagnóstico geralmente após os 30 anos
  • Presença de autoanticorpos, especialmente anti-GAD
  • Progressão mais gradual para dependência de insulina
  • Frequentemente confundido com DM2 no diagnóstico inicial


2. Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2)

  • Caracterizado por defeitos na secreção de insulina e resistência à ação desse hormônio
  • Representa 90-95% dos casos de diabetes
  • Geralmente diagnosticado após os 40 anos, mas com incidência crescente em jovens
  • Forte associação com obesidade, sedentarismo e histórico familiar
  • Evolução lenta e progressiva
  • Inicialmente assintomático na maioria dos casos
  • Tratamento envolve mudanças no estilo de vida, antidiabéticos orais e, eventualmente, insulina


3. Diabetes Mellitus Gestacional (DMG)

  • Hiperglicemia de gravidade variável detectada durante a gestação, sem diagnóstico prévio de diabetes
  • Resulta da resistência à insulina induzida pelos hormônios placentários
  • Afeta aproximadamente 7% das gestações
  • Fatores de risco: idade materna avançada, obesidade, histórico familiar e DMG prévio
  • Geralmente desaparece após o parto, mas indica maior risco de desenvolvimento de DM2 no futuro


4. Outros Tipos Específicos de Diabetes

4.1 Defeitos Genéticos na Função da Célula Beta

4.1.1 Diabetes Monogênicos (MODY - Maturity-Onset Diabetes of the Young)

  • Transmissão autossômica dominante
  • Diagnóstico geralmente antes dos 25 anos
  • Distúrbios primários da função da célula beta
  • Subtipos principais:
    • MODY 1 (gene HNF4A): responde a sulfonilureias
    • MODY 2 (gene GCK): hiperglicemia leve, geralmente não requer tratamento
    • MODY 3 (gene HNF1A): mais comum, boa resposta a sulfonilureias
    • MODY 4 (gene IPF1): raro
    • MODY 5 (gene HNF1B): associado a malformações renais
    • MODY 6 (gene NEUROD1): raro

4.1.2 Diabetes Neonatal

  • Diagnóstico nos primeiros 6 meses de vida
  • Pode ser transitório ou permanente
  • Frequentemente causado por mutações nos genes KCNJ11 e ABCC8
  • Alguns casos podem responder a sulfonilureias

4.2 Defeitos Genéticos na Ação da Insulina

  • Resistência à insulina do tipo A
  • Leprechaunismo
  • Síndrome de Rabson-Mendenhall
  • Diabetes lipoatrófico

4.3 Doenças do Pâncreas Exócrino

  • Pancreatite crônica
  • Pancreatectomia ou trauma
  • Neoplasia pancreática
  • Fibrose cística
  • Pancreatopatia fibrocalculosa
  • Este tipo é também conhecido como "Diabetes tipo 3c" e frequentemente requer insulinoterapia

4.4 Endocrinopatias

  • Acromegalia (excesso de hormônio do crescimento)
  • Síndrome de Cushing (excesso de cortisol)
  • Glucagonoma
  • Feocromocitoma
  • Somatostatinoma
  • Aldosteronoma

4.5 Diabetes Induzido por Medicamentos ou Agentes Químicos

  • Glicocorticoides (prednisona, dexametasona)
  • Antipsicóticos atípicos (olanzapina, clozapina)
  • Imunossupressores (tacrolimus, ciclosporina)
  • Diuréticos tiazídicos
  • Betabloqueadores
  • Estatinas
  • Interferon alfa

4.6 Infecções

  • Rubéola congênita
  • Citomegalovírus
  • Enterovírus

4.7 Formas Incomuns de Diabetes Autoimune

  • Síndrome de Stiff-Man
  • Anticorpos antirreceptores de insulina

4.8 Síndromes Genéticas Associadas ao Diabetes

  • Síndrome de Down
  • Síndrome de Klinefelter
  • Síndrome de Turner
  • Síndrome de Wolfram
  • Ataxia de Friedreich
  • Coreia de Huntington
  • Síndrome de Prader-Willi

 

Prevenção: Depende do Tipo de Diabetes

Diabetes tipo 1

  • Atualmente, não existem intervenções comprovadamente eficazes para prevenir ou retardar o desenvolvimento do DM1
  • Estudos com imunomoduladores e outras abordagens estão em andamento, mas ainda sem resultados conclusivos

Diabetes tipo 2

  • Há evidências robustas de que mudanças no estilo de vida podem prevenir ou retardar significativamente o desenvolvimento do DM2 em pessoas com fatores de risco:
    • Redução de 5-7% do peso corporal em pessoas com sobrepeso/obesidade
    • Prática regular de atividade física (pelo menos 150 minutos semanais)
    • Alimentação equilibrada, rica em fibras e pobre em gorduras saturadas e açúcares refinados
    • Controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol
    • Abandono do tabagismo

Diabetes gestacional

  • Peso adequado antes da gravidez
  • Ganho de peso gestacional dentro dos parâmetros recomendados
  • Atividade física regular (sob orientação médica) pode reduzir o risco

Diabetes monogênicos

  • Por serem causados por mutações genéticas específicas, não são passíveis de prevenção
  • O diagnóstico precoce e preciso é fundamental para o manejo adequado

Considerações para a Prática Farmacêutica

  • A abordagem terapêutica varia significativamente entre os tipos de diabetes, desde a dependência absoluta de insulina no DM1 até o controle primariamente não farmacológico em alguns casos de MODY
  • A monitorização glicêmica apresenta peculiaridades em cada tipo de diabetes, com necessidades de verificações mais frequentes no DM1 e LADA
  • Diversos medicamentos podem induzir ou agravar a hiperglicemia, sendo essencial a identificação proativa desses casos na prática clínica
  • A educação em saúde deve ser personalizada, considerando o mecanismo fisiopatológico específico de cada tipo de diabetes
  • O reconhecimento de formas atípicas de diabetes pode levar a ajustes terapêuticos significativos, como a possibilidade de transição de insulina para sulfonilureias em alguns casos de diabetes monogênicos
  • A classificação correta do tipo de diabetes não é apenas um exercício acadêmico, mas um passo fundamental para o tratamento personalizado e eficaz. 
  • Como farmacêuticos, podemos contribuir significativamente para a identificação de casos atípicos e para a otimização da farmacoterapia em cada perfil de paciente


Referências:

  • Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020.
  • American Diabetes Association. Standards of Medical Care in Diabetes—2023.
  • International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes (ISPAD). Clinical Practice Consensus Guidelines, 2022.
  • World Health Organization. Classification of diabetes mellitus, 2019.

 



    O Dia Mundial do Diabetes, comemorado no dia 14 ne novembro, é uma atividade mundial organizada pela OMS com o intuito de chamar a atenção de toda a população do Brasil e fora do Brasil para a necessidade do controle e prevenção da doença.