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Água para fins farmacêuticos

Considera-se como água para uso farmacêutico os diversos tipos de água empregados na síntese de fármacos, na formulação e produção de medicamentos, em laboratórios de ensaios, diagnósticos e demais aplicações relacionadas à área da saúde, inclusive como principal componente na limpeza de utensílios, equipamentos e sistemas. 
Basicamente existem três tipos de água para uso farmacêutico: a água purificada (AP); a água para injetáveis (API) e a água ultrapurificada (AUP). Compêndios oficiais de outros países ou internacionais especificam, além desses, outros tipos de água, como: acondicionadas em frascos, estéreis ou bacteriostáticas, para irrigação ou inalação. 
Além disso, é importante comentar, também, sobre a água potável e a água reagente, que são amplamente utilizadas e têm aplicação direta em instalações farmacêuticas, principalmente em procedimentos gerais de limpeza. Assim, são considerados os cinco tipos de água a seguir, em relação às suas características principais e as sugestões de aplicação. As monografias específicas, quando disponíveis, detalham os parâmetros de pureza estabelecidos para cada tipo.

Água Potável

Como diretriz fundamental, o ponto de partida para qualquer processo de purificação de água para fins farmacêuticos é a água potável. Essa é obtida por tratamento da água retirada de mananciais, por meio de processos adequados para atender às especificações da legislação brasileira relativa aos parâmetros físicos, químicos, microbiológicos e radioativos, para um determinado padrão de potabilidade e, portanto, não possui monografia específica nesse compêndio. A água potável é empregada, normalmente, nas etapas iniciais de procedimentos de limpeza e como fonte de obtenção de água de mais alto grau de pureza. Pode ser utilizada, também, na climatização térmica de alguns aparatos e na síntese de ingredientes intermediários. 
O controle rigoroso e a manutenção de conformidade dos parâmetros de potabilidade da água são fundamentais, críticos e de responsabilidade do usuário do sistema de purificação que será alimentado. O controle deve ser periódico para garantir que o sistema de purificação utilizado esteja apropriado para as condições da fonte de alimentação e que não houve alteração na qualidade da água fornecida. 
No entanto, a maioria das aplicações requer tratamento adicional da água potável, seja por destilação, deionização, troca iônica, osmose reversa, isolados ou acoplados, ou outro processo adequado para produzir a água purificada, livre da interferência de contaminantes que possam afetar a qualidade dos medicamentos produzidos.

Água Reagente (Milli-Q)

É produzida por um ou mais processos, como destilação simples, deionização, filtração, descloração ou outro, adequados às características específicas de seu uso. Geralmente a água reagente é empregada na limpeza de materiais e de alguns equipamentos e na fase final da síntese de ingredientes ativos e de excipientes. Também, tem aplicação no abastecimento de equipamentos, autoclaves, banho maria e em histologia. Devem ser adotadas medidas para evitar a proliferação microbiana nos pontos de circulação, distribuição e armazenamento. Possui tipo I, II, III e especial.

Água purificada (AP ou PW)

Água purificada é produzida a partir da água potável ou da água reagente e deve atender às especificações estabelecidas na respectiva monografia. Não contém qualquer outra substância adicionada. É obtida por uma combinação de sistemas de purificação, em uma sequência lógica, tais como múltipla destilação; troca iônica; osmose reversa; eletrodeionização; ultra filtração, ou outro processo capaz de atender, com a eficiência desejada, aos limites especificados para os diversos contaminantes. 
É empregada como excipiente na produção de formas farmacêuticas não parenterais e em formulações magistrais, desde que não haja nenhuma recomendação de pureza superior no seu uso ou que não necessite ser apirogênica. Também, pode ser utilizada na lavagem de material, preparo de soluções reagentes, meios de cultura, tampões, diluições diversas, microbiologia em geral, análises clínicas, técnicas por Elisa ou radioimunoensaio, aplicações diversas na maioria dos laboratórios, principalmente em análises qualitativas ou quantitativas menos exigentes (determinações em porcentagem). É utilizada nos ensaios e determinações que indiquem o emprego de água, a não ser que haja especificação em contrário quanto ao nível de pureza requerido, como por exemplo, alguns métodos analíticos instrumentais e análises que exijam água apirogênica ou de pureza química superior. Pode ser empregada em cromatografia a líquido de alta eficiência, quando confirmado que o seu emprego não afeta a exatidão nem a precisão dos resultados. Dependendo da aplicação, pode ser esterilizada, sem necessariamente atingir o limite de endotoxinas bacterianas estabelecido para a Água para Injetáveis.

Água Ultrapurificada (AUP)

A água ultrapurificada possui baixa concentração iônica, baixa carga microbiana e baixo nível de COT. Essa modalidade de água é requerida em aplicações mais exigentes, principalmente em laboratórios de ensaios, para diluição de substâncias de referência, em controle de qualidade e na limpeza final de equipamentos e utensílios utilizados em processos que entrem em contato direto com a amostra que requeira água com esse nível de pureza. É ideal para métodos de análise que exigem mínima interferência e máxima precisão e exatidão. 
A utilização de água ultrapurificada em análises quantitativas de baixos teores de analito é essencial para obtenção de resultados analíticos precisos. Outros exemplos de aplicação da água ultrapurificada são: análises de resíduos, dentre eles os traços de elementos minerais, endotoxinas, preparações de calibradores, controles, substância química de referência, espectrometria de absorção atômica em geral, ICP/IOS, ICP/ MS, espectrometria de massa, procedimentos enzimáticos, cromatografia a gás, cromatografia a líquido de alta eficiência (determinação de resíduos em ppm ou ppb), métodos em biologia molecular e com cultivo celular etc. Deve ser utilizada no momento em que é produzida, ou no mesmo dia da coleta. O laboratório deve utilizar o mesmo tipo de água requerida para a leitura final da análise na preparação das amostras, na obtenção da curva padrão, de controles, preparo de soluções, brancos, lavagem final do material e em toda a vidraria que estará em contato direto com a amostra, sempre que for apropriado.

Água para Injetáveis (API ou WFI)

É utilizada como excipiente na preparação de produtos farmacêuticos parenterais de pequeno e grande volume, na fabricação de princípios ativos de uso parenteral, de produtos estéreis, demais produtos que requeiram o controle de endotoxinas e não são submetidos à etapa posterior de remoção, bem como na limpeza e preparação de processos, equipamentos e componentes que entram em contato com as formas parenterais na produção de fármacos. Essa modalidade engloba, também, a água esterilizada para injeção, utilizada na administração parenteral e a água estéril para injeção, que é embalada em frasco hermético e esterilizada por tratamento de calor. O processo de purificação de primeira escolha é a destilação, em equipamento cujas paredes internas sejam fabricadas em metal apropriado, como o aço inox AISI 316L, vidro neutro ou quartzo. Alternativamente, a API, também, pode ser obtida por processo equivalente ou superior à destilação para a remoção de contaminantes químicos e micro-organismos, desde que seja validado e monitorado quanto aos parâmetros estabelecidos. A água de alimentação deve ser no mínimo, potável e, em geral, necessitará ser pré-tratada para alimentar os equipamentos. O processo é assim especificado em razão da robustez que tais equipamentos apresentam quanto à operação e ao desempenho. 
O sistema de obtenção, distribuição e armazenamento da água deve ser validado e apropriado, de forma a impedir a contaminação microbiana e a formação de endotoxinas bacterianas. Deve atender aos requisitos estabelecidos na monografia específica. O controle será mais rigoroso quando a aplicação for para injetáveis, que não permite a ocorrência de contaminação microbiana, nem de endotoxinas. A adição de um ou mais agentes antimicrobianos à água purificada estéril origina a água bacteriostática estéril, que é empregada como diluente de algumas preparações parenterais, embaladas em doses individuais. 
Outra variedade de água é a água de hemodiálise, que é tratada para obter a máxima redução de contaminantes químicos e microbiológicos. Possui regulamento próprio, com especificações de qualidade e periodicidade específicas para o controle.

A seguir, a tabela com os principais parâmetros para a utilização da água para fins farmacêuticos:


Tipos de Água
 Parâmetros
Água purificada (AP)
Água ultrapurificada (AUP)
Água para injetáveis (API)
Água reagente
Água Potável
Condutividade
De 0,1 a 1,3µ S/cm a 25,0 °C
0,055 a 0,1 a µ S/cm a 25,0° C ± 0,5°C
De 0,1 a 1,3µ S/cm a 25,0 °C
 De 1,0 a 5,0 µ S/cm
Possui legislação específica
Carbono Orgânico Total  (COT)
< 0,50 mg/L
< 0,05 mg/L
< 0,50 mg/L
< 0,20 mg/L

Resistividade
> 1,0 M W -cm
> 18,0 M W-cm
> 1,0 M W -cm
> 0,2 M W-cm

Endotoxinas Bacterianas
< 0,25 UI
< 0,03 UI
< 0,25 UI


Contagem Total de Bactérias
 < 100 UFC/mL
< 1 UFC/100 mL
< 10 UFC/ 100 mL


 Obs:
 Ausência de Pseudomonas
e outros patogênicos
 Ausência de Pseudomonas
e outros patogênicos

Ausência   de:
pseudomonas aeruginosa; Escherichia coli ou coliformes termotolerantes(3)
pH
5 à 7

5 à 7




@cadernofarmacia


Endotoxinas bacterianas: Porção lipopolissacarídea da parede celular de bactérias gram-negativas. O LPS ativa leucócitos circulantes (receptor CD14), que secretam citocinas inflamatórias como IL-1, IL-6, TNF e IL-8. Causam febre, hipotensão, neutrofilia, aumento dos níveis de cortisol e proteina C.



Fonte

  • Farmacopeia Brasileira - ÁGUA PARA USO FARMACÊUTICO, Pág. 391-394., 5ª ed., vol. 2. / Brasília: Anvisa, 2010.

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